Edição 1964 de 24 de fevereiro a 2 de março de 2013
Caso Valério
Caso Valério
Conclusão de inquérito confirma Maurício como mandante
Até o início de março será encaminhado ao Judiciário a conclusão das investigações que levaram 5 pessoas à cadeia, dentre elas cartorário e dois policiais militares
Frederico Vitor
Após oito meses de investigação, a Delegacia de Inves-tigações de Homicí-dios (DIH) da Polícia Civil de Goiás encerrou o inquérito sobre o assassinato do cronista esportivo Valério Luiz de Oliveira, 49 anos, morto a tiros em frente a Rádio Jornal AM 820, no dia 5 de julho de 2012. O cartorário e empresário Maurício Borges Sampaio foi indiciado como mandante. O comerciante Urbano de Carvalho Malta, o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier e os policiais militares sargento Djalma Gomes da Silva e cabo Ademá Figueiredo Aguiar Filho foram indiciados como autores do crime.
Após oito meses de investigação, a Delegacia de Inves-tigações de Homicí-dios (DIH) da Polícia Civil de Goiás encerrou o inquérito sobre o assassinato do cronista esportivo Valério Luiz de Oliveira, 49 anos, morto a tiros em frente a Rádio Jornal AM 820, no dia 5 de julho de 2012. O cartorário e empresário Maurício Borges Sampaio foi indiciado como mandante. O comerciante Urbano de Carvalho Malta, o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier e os policiais militares sargento Djalma Gomes da Silva e cabo Ademá Figueiredo Aguiar Filho foram indiciados como autores do crime.
A delegada Adriana Ribeiro de Barros, que está deixando a titularidade da DIH para assumir o comando da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), substituindo Josuemar Vaz de Oliveira, deverá encaminhar, ao judiciário, até o dia 2 de março, o inquérito composto por dois blocos que, somados, superam mais de mil páginas além do anexo contendo as provas técnicas. Está comprovado que Valério Luiz foi executado devido às críticas que fazia em relação à direção do Atlético Clube Goianiense, direcionadas ao ex-vice-presidente Maurício Sampaio e ao diretor de futebol Adson Batista.
O estopim para a desavença extremada de Maurício Sampaio contra Valério foi o comentário feito pelo cronista em seu programa na PUC TV, no qual disse que “nos filmes, quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora”. O Atlético passava por péssima fase no Campeonato Brasileiro da série A, e vinha de uma sequência de derrotas. À época, além de Maurício Sampaio, que era vice-presidente, o tenente-coronel da Polícia Militar Wellington de Urzêda, então gerente de comunicação do clube, também deixou o Atlético. O militar era lotado como comandante do Comando de Missões Especiais (CME) — unidade da PM que engloba numa só chefia os batalhões de Rotam, Choque, Graer, Regimento de Polícia Montada e o Tático Ostensivo Rodoviário (TOR).
Ao todo foram 12 testemunhas oculares do crime. Elas descreveram o executor como um homem de estatura média, forte e de olhos caídos. No momento do crime o homicida pilotava uma motocicleta Honda modelo CG-125 de cor preta, estava de capacete preto, calça jeans e camisa vermelha. A arma usada para executar Valério foi um revólver calibre 357. As testemunhas foram submetidas ao reconhecimento de suspeitos por meio de fotografias e todas apontaram para o cabo Figueiredo como o que mais se aproximava às compleições do executor do homicídio.
O militar era segurança particular de Maurício Sampaio e do apresentador da TV Goiânia Joel Datena, filho do também apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena. Figueiredo também é acusado de ser o executor de uma criança de 4 anos, que morreu com um tiro na nuca na chacina ocorrida em 2011, em que seis pessoas foram mortas no Jardim Olímpico, em Aparecida de Goiânia. Da Silva, outro policial militar preso que pertence à quadrilha formada para matar Valério Luiz, também era segurança de Maurício Sampaio e de Joel Datena. O sargento, que é faixa preta de jiu-jítsu e instrutor de lutas na Academia de Polícia Militar têm 11 menções elogiosas na corporação.
De acordo com o inquérito da polícia, três meses antes do crime, Urbano Malta acompanhado de Da Silva foram até o açougue de Marcus Vinícius, o Marquinhos, no Parque Amazonas, atrás de que ele topasse participar de “um susto contra uma pessoa que teria um caso com a mulher do patrão de Urbano” — no caso Maurício Sampaio. Para tal, o açougueiro receberia R$ 10 mil para guardar a arma do crime, além de conseguir uma moto e um capacete que seriam usados na ação. Marquinhos, que tem passagem pela polícia por roubo e homicídio, era um informante da polícia, portanto, conhecido de Da Silva.
Investigação e prisões
Maurício Sampaio é proprietário de uma casa no Setor Serrinha, próximo à Rádio Jornal AM 820, então ocupada por Urbano. De lá, o parceiro comercial do cartorário monitorava o dia a dia de Valério Luiz em seu local de trabalho, fornecendo informações para os outros integrantes do grupo que executariam Valério. Da Silva conseguiu o revólver e entregou a Marquinhos, que por sua vez o escondeu no açougue. No dia do crime, cabo Figueiredo encontrou Marquinhos, que repassou ao militar, além da arma, uma blusa gola polo de cor vermelha, um capacete cor de rosa e a Honda CG 125 de propriedade de seu pai.
Passadas duas horas, Figueiredo retornou à casa de Marquinhos devolvendo a motocicleta, um capacete de cor preta e a arma. O militar teria dito em depoimento que no momento do fato estava trabalhando como segurança na residência de Joel Datena, no Parque Amazonas. O cabo entregou à polícia um pen-drive com imagens do circuito interno de TV que comprovariam que ele estaria na residência do apresentador da TV Goiânia no momento do crime. Entretanto, a análise de vínculo dos dados telefônicos apontou que no momento do crime o celular do militar esteve sob a órbita da Estação Radio Base (ERB) — torre de telefonia celular — das imediações da Rádio Jornal AM 820 no setor Serrinha.
Além disso, mesmo apresentando imagens de que estaria na casa de Datena, a perícia apontou por meio de análises técnicas que as imagens foram editadas e que não era compatível com o período em que ocorreu a morte de Valério — das 13h30 às 14h40 do dia 5 de julho. A polícia desde o início descartou o crime de latrocínio — roubo seguido de morte sustentado pela defesa do mandante — haja vista que dinheiro, documentos, patins, um i-Pad e um celular ficaram dentro do carro Ford Ka de Valério Luiz.
Testemunhas também disseram que após a execução de Valério Luiz, tanto Urbano quanto Figueiredo — este último vestido com outra roupa — estiveram no local do crime. A perícia teria constatado que as câmeras da Rádio Jornal, por estarem desligadas, não registraram o crime. Mas, as câmeras externa de segurança da casa de um magistrado, localizada próxima à cena do crime, registrou o cabo Figueiredo trafegando de moto na contramão rumo ao encontro de Valério. As imagens são nítidas e mostram que o executor fugiu em alta velocidade após consumar o crime.
No período de oito meses até a polícia efetuar as prisões dos acusados, Marcus Vinícius foi procurado por Da Silva, que o “orientou” por quais caminhos ele deveria seguir caso fosse preso. O militar teria dito que Marquinhos deveria, primeiramente, assumir a autoria do crime para posteriormente jogar a culpa em Urbano. Em depoimento, o açougueiro disse que caso não seguisse as “instruções” seria executado pelo próprio Da Silva, que mataria também sua família.
Após reunir provas técnicas e testemunhais suficiente, na manhã do dia 1ª de feverreiro, a Polícia Civil efetuou as prisões temporárias de Urbano Malta, Marcus Vinícius e do sargento Da Silva, por determinação da juíza substituta da 2ª Vara Criminal de Goiânia, Denise Gondim de Mendonça. No dia seguinte, no início da tarde de sábado, a polícia prendeu Maurício Sampaio em seu apartamento, no Setor Oeste, em Goiânia. Até então, o autoria da execução do crime era impetrada a Marquinhos. Contudo, no dia 6, o açougueiro prestou novo depoimento e disse que quem atirou contra Valério Luiz foi o cabo Figueiredo, que já se encontrava preso na carceragem da PM no Batalhão Anhanguera, acusado de participação na chacina no Jardim Olímpico, em Aparecida de Goiânia.
Defesa e acusação opinam sobre conclusão das investigações
O pai de Valério Luiz, o também cronista esportivo e radialista Manoel de Oliveira, afirma que o inquérito é positivo e que há provas consistentes contra os cinco acusados. Entretanto, ele diz que ainda não está preso o intelectual do crime, em sua opinião um suposto sexto integrante da quadrilha, que seria o responsável pela arquitetura do homicídio. “Neste crime houve o mandante, o intelectual, o organizador e o matador. Este intelectual, por ser uma pessoa inteligente, até agora não se revelou quem é nem há provas que o colocariam na cadeia.”
Manoel de Oliveira pondera que está preocupado com as batalhas judiciais que estarão por vir nesta segunda fase do caso. Ele diz que teme a necessidade ir constantemente a Brasília para que o processo dê prosseguimento e não emperre nas prateleiras dos tribunais. Contudo, ele revela que montará uma ONG que vai trabalhar junto à famílias de vítimas de homicídios, principalmente aqueles cometido por policiais. “Temo ter que montar acampamento em Brasília e correr atrás de meus amigos da imprensa em todo o Brasil.”
“Remanejamento normal”
Sobre a saída da delegada Adriana Ribeiro da DIH, Manoel de Oliveira acredita que a transferência não se deu por causa do caso Valério, e que se trata de um remanejamento normal dentro da polícia. “A Polícia Civil fez um trabalho de polícia de Primeiro Mundo.”
Ney Moura Teles, advogado de Maurício Sampaio, afirma que se pronunciará somente após o inquérito chegar ao judiciário. Paulo Teles, advogado da família de Valério Luiz, diz que a conclusão do inquérito correspondeu às expectativas e que nada deixou a desejar. “Segundo a ótica da família, o trabalho da polícia atendeu as perspectivas imaginadas. Agora começa a batalha de permanência dos acusados na prisão, já que não há dúvida que eles serão denunciados à Justiça e terão de responder pelos crimes cometidos.” l
FONTE: JORNAL OPÇÃO
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