sábado, 23 de fevereiro de 2013

CASO VALERIO


Edição 1964 de 24 de fevereiro a 2 de março de 2013
Caso Valério
Conclusão de inquérito confirma Maurício como mandante
Até o início de março será encaminhado ao Judiciário a conclusão das investigações que levaram 5 pessoas à cadeia, dentre elas cartorário e dois policiais militares
Fernando Leite/Jornal Opção
Delegada Adriana Ribeiro de Barros: responsável pelo inquérito composto por dois blocos que somam mais de mil páginas
Frederico Vitor

Após oito meses de investigação, a De­legacia de Inves-tigações de Homicí-dios (DIH) da Polícia Civil de Goiás encerrou o inquérito sobre o assassinato do cronista esportivo Valério Luiz de Oliveira, 49 anos, morto a tiros em frente a Rádio Jornal AM 820, no dia 5 de julho de 2012. O cartorário e empresário Maurício Borges Sampaio foi indiciado como mandante. O comerciante Urbano de Car­valho Malta, o açougueiro Mar­cus Vinícius Pereira Xavier e os policiais militares sargento Djalma Gomes da Silva e cabo Ademá Figueiredo Aguiar Filho foram indiciados como autores do crime. 
A delegada Adriana Ribeiro de Barros, que está deixando a titularidade da DIH para assumir o comando da Delegacia Estadual de Investigações Cri­minais (Deic), substituindo Josuemar Vaz de Oliveira, de­verá encaminhar, ao judiciário, até o dia 2 de março, o inquérito composto por dois blocos que, somados, superam mais de mil páginas além do anexo contendo as provas técnicas. Está comprovado que Valério Luiz foi executado devido às críticas que fazia em relação à direção do Atlético Clube Goianiense, direcionadas ao ex-vice-presidente Maurício Sampaio e ao diretor de futebol Adson Batista.
O estopim para a desavença extremada de Maurício Sampaio contra Valério foi o comentário feito pelo cronista em seu programa na PUC TV, no qual disse que “nos filmes, quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora”. O Atlético passava por péssima fase no Campeonato Brasileiro da série A, e vinha de uma sequência de derrotas. À época, além de Maurício Sampaio, que era vice-presidente, o tenente-coronel da Polícia Militar Wel­lington de Urzêda, então gerente de comunicação do clube, também deixou o Atlético. O militar era lotado como comandante do Comando de Missões Especiais (CME) — unidade da PM que engloba numa só chefia os batalhões de Rotam, Choque, Graer, Regimento de Polícia Mon­tada e o Tático Ostensivo Ro­doviário (TOR). 
Ao todo foram 12 testemunhas oculares do crime. Elas descreveram o executor como um homem de estatura média, forte e de olhos caídos. No momento do crime o homicida pilotava uma motocicleta Honda modelo CG-125 de cor preta, estava de capacete preto, calça jeans e camisa vermelha. A arma usada para executar Valério foi um revólver calibre 357. As testemunhas foram submetidas ao reconhecimento de suspeitos por meio de fotografias e todas apontaram para o cabo Figueiredo como o que mais se aproximava às compleições do executor do homicídio.
O militar era segurança particular de Maurício Sampaio e do apresentador da TV Goiânia Joel Da­tena, filho do também apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena. Figueiredo também é acusado de ser o executor de uma criança de 4 anos, que morreu com um tiro na nuca na chacina ocorrida em 2011, em que seis pessoas foram mortas no Jardim Olímpico, em Aparecida de Goiânia. Da Silva, outro policial militar preso que pertence à quadrilha formada para matar Valério Luiz, também era segurança de Maurício Sampaio e de Joel Datena. O sargento, que é faixa preta de jiu-jítsu e instrutor de lutas na Academia de Polícia Militar têm 11 menções elogiosas na corporação.
De acordo com o inquérito da polícia, três meses antes do crime, Urbano Malta acompanhado de Da Silva foram até o açougue de Marcus Vinícius, o Marquinhos, no Parque Ama­zonas, atrás de que ele topasse participar de “um susto contra uma pessoa que teria um caso com a mulher do patrão de Urbano” — no caso Maurício Sampaio. Para tal, o açougueiro receberia R$ 10 mil para guardar a arma do crime, além de conseguir uma moto e um capacete que seriam usados na ação. Marquinhos, que tem passagem pela polícia por roubo e homicídio, era um informante da polícia, portanto, conhecido de Da Silva.
Investigação e prisões
Maurício Sampaio é proprietário de uma casa no Setor Serrinha, próximo à Rádio Jornal AM 820, então ocupada por Urbano. De lá, o parceiro comercial do cartorário monitorava o dia a dia de Valério Luiz em seu local de trabalho, fornecendo informações para os outros integrantes do grupo que executariam Valério. Da Silva conseguiu o revólver e entregou a Marquinhos, que por sua vez o escondeu no açougue. No dia do crime, cabo Figueiredo encontrou Marquinhos, que repassou ao militar, além da arma, uma blusa gola polo de cor vermelha, um capacete cor de rosa e a Honda CG 125 de propriedade de seu pai.
Passadas duas horas, Fi­gueiredo retornou à casa de Marquinhos devolvendo a mo­tocicleta, um capacete de cor preta e a arma. O militar teria dito em depoimento que no momento do fato estava trabalhando como segurança na residência de Joel Datena, no Parque Amazonas. O cabo entregou à polícia um pen-drive com imagens do circuito interno de TV que comprovariam que ele estaria na residência do apresentador da TV Goiânia no momento do crime. Entretanto, a análise de vínculo dos dados telefônicos apontou que no momento do crime o celular do militar esteve sob a órbita da Estação Radio Base (ERB) — torre de telefonia celular — das imediações da Rádio Jornal AM 820 no setor Serrinha.
Além disso, mesmo apresentando imagens de que estaria na casa de Datena, a perícia apontou por meio de análises técnicas que as imagens foram editadas e que não era compatível com o período em que ocorreu a morte de Valério — das 13h30 às 14h40 do dia 5 de julho. A polícia desde o início descartou o crime de latrocínio — roubo seguido de morte sustentado pela defesa do mandante — haja vista que dinheiro, documentos, patins, um i-Pad e um celular ficaram dentro do carro Ford Ka de Va­lério Luiz.  
Testemunhas também disseram que após a execução de Valério Luiz, tanto Urbano quanto Figueiredo — este último vestido com outra roupa — estiveram no local do crime. A perícia teria constatado que as câmeras da Rádio Jornal, por estarem desligadas, não registraram o crime. Mas, as câmeras externa de segurança da casa de um magistrado, localizada próxima à cena do crime, registrou o cabo Figueiredo trafegando de moto na contramão rumo ao encontro de Valério. As imagens são nítidas e mostram que o executor fugiu em alta velocidade após consumar o crime. 
No período de oito meses até a polícia efetuar as prisões dos acusados, Marcus Vinícius foi procurado por Da Silva, que o “orientou” por quais caminhos ele deveria seguir caso fosse preso. O militar teria dito que Marquinhos deveria, primeiramente, assumir a autoria do crime para posteriormente jogar a culpa em Urbano. Em depoimento, o açougueiro disse que caso não seguisse as “instruções” seria executado pelo próprio Da Silva, que mataria também sua família.
Após reunir provas técnicas e testemunhais suficiente, na manhã do dia 1ª de feverreiro, a Polícia Civil efetuou as prisões temporárias de Urbano Malta, Marcus Vinícius e do sargento Da Silva, por determinação da juíza substituta da 2ª Vara Criminal de Goiânia, Denise Gondim de Mendonça. No dia seguinte, no início da tarde de sábado, a polícia prendeu Maurício Sampaio em seu apartamento, no Setor Oeste, em Goiânia. Até então, o autoria da execução do crime era impetrada a Marquinhos. Contudo, no dia 6, o açougueiro prestou novo depoimento e disse que quem atirou contra Valério Luiz foi o cabo Figueiredo, que já se encontrava preso na carceragem da PM no Batalhão Anhanguera, acusado de participação na chacina no Jardim Olímpico, em Aparecida de Goiânia.
Defesa e acusação opinam sobre conclusão das investigações
O pai de Valério Luiz, o também cronista esportivo e radialista Manoel de Oliveira, afirma que o inquérito é positivo e que há provas consistentes contra os cinco acusados. Entretanto, ele diz que ainda não está preso o intelectual do crime, em sua opinião um suposto sexto integrante da quadrilha, que seria o responsável pela arquitetura do homicídio. “Neste crime houve o mandante, o intelectual, o organizador e o matador. Este intelectual, por ser uma pessoa inteligente, até agora não se revelou quem é nem há provas que o colocariam na cadeia.”
Manoel de Oliveira pondera que está preocupado com as batalhas judiciais que estarão por vir nesta segunda fase do caso. Ele diz que teme a necessidade ir constantemente a Brasília para que o processo dê prosseguimento e não emperre nas prateleiras dos tribunais. Contudo, ele revela que montará uma ONG que vai trabalhar junto à famílias de vítimas de homicídios, principalmente aqueles cometido por policiais. “Temo ter que montar acampamento em Brasília e correr atrás de meus amigos da imprensa em todo o Brasil.”
“Remanejamento normal” 
Sobre a saída da delegada Adriana Ribeiro da DIH, Manoel de Oliveira acredita que a transferência não se deu  por causa do caso Valério, e que se trata de um remanejamento normal dentro da polícia. “A Polícia Civil fez um trabalho de polícia de Pri­meiro Mundo.”
Ney Moura Teles, advogado de Maurício Sampaio, afirma que se pronunciará somente após o inquérito chegar ao judiciário. Paulo Teles, advogado da família de Valério Luiz, diz que a conclusão do inquérito correspondeu às expectativas e que nada deixou a desejar. “Segundo a ótica da família, o trabalho da polícia atendeu as perspectivas imaginadas. Agora começa a batalha de permanência dos acusados na prisão, já que não há dúvida que eles serão denunciados à Justiça e terão de responder pelos crimes cometidos.”    l
FONTE: JORNAL OPÇÃO

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA MANÉ DE OLIVEIRA


Edição 1950 de 18 a 24 de novembro de 2012
Entrevista | Manoel de Oliveira
“O mandante da morte do Valério Luiz é um psicopata”
Jornalista que teve o filho mais velho assassinado revela fatos que antecederam o crime ocorrido no início de julho e que dão a chave para a descoberta dos culpados
Fernando Leite/Jornal Opção
“Eu acredito na Justiça e no trabalho da polícia, acredito no governador, os assassinos do meu filho serão descobertos.” A frase do jornalista esportivo Manoel de Oliveira é a expressão de esperança de um homem que vive o pior drama que um pai pode passar, que é conviver com a ainda impunidade dos assassinos de seu filho mais velho, Valério Luiz de Oliveira, morto em emboscada por um pistoleiro no dia 5 de julho, quando saía do trabalho na Rádio Jornal (820 AM), no Setor Serrinha, em Goiânia.

O crime causou comoção em Goiás e teve repercussão internacional. Tanto por ser o morto uma pessoa muito conhecida, como pela motivação fútil do assassinato, ao que tudo indica — e nem a polícia nem a sociedade têm dúvida —, retaliação por críticas que o radialista fazia a diretores do Atlético Clube Goianiense.

Manoel de Oliveira, o Mané de Oliveira, como é co­nhecido em Goiás, conta um pouco do drama que tem vivido, deixando transparecer a imensa dor de pai e a indignidade de cidadão vítima da violência crescente em Goiás e no Brasil — há poucas semanas, ele foi vítima de assalto em seu estabelecimento comercial, quando ele e a família passaram uma hora de terror, sob a mira de pistolas. Mané fala também de futebol, faz uma rápida radiografia dos times goianos, aos quais conhece a fundo do alto de seus 45 anos de profissão.
Euler de França Belém — Quem era Valério Luiz?
Valério era um filho que nunca me deu problema. Ele sempre foi muito independente. Começou a trabalhar comigo no rádio, puxando fio, de repente se tornou repórter e aí deixou de trabalhar comigo. Trabalhou na TV Goyá, no Go­iânia Urgente, na Jaime Câmara, na TV Serra Dourada, como repórter. Voltou a trabalhar comigo em 1998, na TV, quando mo­dernizou todo o esquema de esportes, que funciona até hoje no estilo, no padrão que ele organizou. Ele comandava a minha equipe. De­pois de um ano, foi chamado a voltar à Organização Jaime Câmara. Mas Valério sempre foi intempestivo e não se adaptou ao esquema da OJC. No meu programa ele era âncora, um dia me disse: eu vou melhorar a qualidade do seu programa, o sr. não é mais aquele, está passando a mão na cabeça dos outros, tá faltando polêmica, que é sua marca. Vou passar a comentar futebol.
Cezar Santos — O que fez com certa virulência, não?
Confesso que ele cometeu exageros que não batiam com a filosofia da equipe. Eu falava com ele, dizia que estávamos numa emissora do governo, que podíamos criticar os dirigentes, mas não ofender as pessoas, e que não tínhamos nada a ver com problemas políticos, nosso foco era o futebol. Valério se demitiu, disse que estava saindo, que nem viria receber suas contas, que eu acertasse com sua mulher (Lorena Nascimento de Oliveira, advogada). Isso depois de dez anos, em 2010. 
Frederico Vitor — Ele foi para onde?
Para a Rádio Jornal. Disse que não queria mais TV porque ne­nhuma lhe dava liberdade para falar o que ele queria. A crítica do Valério doía mais porque ele não generalizava. Ele se dirigia ao dirigente, falando “você, fulano”, ou seja, citava diretamente a pessoa. De­pois, convidado pela PUC TV, foi sem discutir salários, apenas pela liberdade para se expressar. Foi exatamente essa liberdade de expressão, de poder falar o que quisesse, que fez o futebol levar o Valério.

Euler de França Belém — Co­legas diziam que Valério Luiz exagerava, mas não falseava. O exagero é porque ele dizia a verdade, é isso?
Exatamente. Valério fazia crítica a quem quer que fosse, se achasse que era justa. Mas ele não misturava as coisas. Era intempestivo única e exclusivamente com o microfone na mão. Sem o microfone não tinha nada disso.

Euler de França Belém — Valério denunciou uma “mala preta” de um time goiano, que comprou um resultado. Isso foi fato?
Foi fato, há uns três ou quatro anos. O Atlético precisava da vitória contra o Barras, no Piauí, para poder subir. A diretoria do Atlético tentou comprar o goleiro e treinador do Barras. Valério estava co­brindo o jogo pela TV, descobriu e fez uma crítica violenta ao dirigente que tentou subornar ou subornou o adversário. Depois disso, esse dirigente tornou-se inimigo pessoal do Valério. E outras denúncias foram feitas.
Euler de França Belém — Esse dirigente chegou a falar que ia acabar com a carreira do Valério?
Ultimamente ele vinha falando isso. E coincidentemente, há cerca de quatro meses, Valério disse que o Atlético seria rebaixado e deu os nomes de todos os culpados, um por um. Após isso, o Atlético mandou uma carta à PUC TV, ao reitor [Wolmir Amado], pedindo a cabeça do Valério. O reitor não aceitou. Também pediram à direção da Rádio Jornal, que igualmente não aceitou. Aí o Atlético proibiu a entrada das duas emissoras no clube enquanto Valério fosse funcionário delas. Quinze dias depois, Valério descreveu toda a situação do Atlético e disse a frase que eu acho que foi a gota d’água — quando o navio está afundando, os primeiros a saírem são os ratos. Dois dirigentes estavam deixando o clube naquela oportunidade.
Euler de França Belém — Quem assinou os ofícios pedindo a cabeça do Valério?
O presidente e o vice, Valdivino de Oliveira e Maurício Sampaio. E segundo informações, houve in­centivo nisso do diretor Adson Batista e do assessor de imprensa na época, me parece que um certo Guilherme [na verdade, Felipe Furtado, que se demitiu depois de ter sido acusado pela diretoria de ser o responsável pelo veto]. Há quatro meses aconteceu isso.

Euler de França Belém — Sobre o crime, pessoas interessadas em atrapalhar a investigação chegaram a falar que Valério teria envolvimento com drogas. A delegada Adriana Accorsi disse que não há nenhuma informação objetiva sobre isso. Como o sr. avalia isso?
Eu pedi a um ex-genro meu, um tenente-coronel da PM, que fizesse investigação sobre os últimos 30 dias do Valério. Nos últimos três anos, ele não estava trabalhando comigo, eu não sabia muito da vida dele. Eu queria saber se havia alguma coisa, alguma intriga, briga, desavença. Foi feita a investigação. Também contratei o advogado Rander, ex-delegado da Polícia Federal, para fazer um levantamento da vida do Valério. O que se achou foi uma pequena briga com um namorado da ex-sogra do Valério, desavença da família da mulher do Valério em que ele se envolveu. Valério acabou ferindo o rapaz com um canivete. Isso aconteceu, mas depois eles se acertaram, fizeram churrasco juntos. Não teve sequência para motivar um assassinato como o­correu depois.
Euler de França Belém — Então nada foi levantado sobre envolvimento com drogas?
Nada, pode fazer o levantamento que quiserem. Valério era da chamada geração saúde, andava de bicicleta. Pegava bicicleta cedo, ia a Goianira, ia à casa da mãe dele quase todos os dias, no Garavelo. Ele tinha duas casas que construiu para alugar num lote que a mãe deu a ele, Valério ia de bicicleta nessas casas. Ultimamente, ele tomava uísque socialmente, mas nunca foi de beber. Não tinha nada de drogas na vida dele, pelo contrário, ele participava de grupos que davam orientação contra drogas. Valério era Testemunha de Jeová, duas ou três vezes por semana ela saía nas casas, pregando religião. Eu até achava exagerado, algumas coisas que eu não concordo, ele dizia "é a minha religião, eu acredito nela". Ele pregava, tentava me convencer, eu dizia Valério, eu sou católico, nasci católico.
Cezar Santos — Falou-se também num possível caso extraconjugal em que Valério estaria envolvido. A investigação que o sr. pediu levantou algo?
A polícia também investigou isso. Valério foi casado três vezes. Do primeiro, teve uma filha. Separou-se numa boa, a mulher casou de novo, sem problema. Valério nunca foi de farra e logo conheceu Andréia, a mãe de dois filhos dele. Viveram acho que 20 anos. Valério era genioso, de personalidade forte, não admitia certas coisas nos filhos, era muito rígido, e começou a ter atritos com a mulher. Se separaram, talvez mais por culpa dele. Aí ele conheceu, na Igreja Testemunhas de Jeová, a Lorena, a terceira mulher. Nam­oraram seis meses sem ter nenhum relacionamento sexual, o que só ocorreu depois do casamento, porque a religião não permite. Aí os filhos não quiseram mais ir à igreja, ele também não os obrigou. Ele e Lorena continuaram a frequentar as Testemunhas de Jeová. Eles viviam bem, Lorena é uma advogada, pessoa esclarecida. Eles viviam bem, sem atritos com os filhos.

A execução do Valério não foi feita por qualquer um, todo mundo sabe disso. A polícia sabe disso. Foi uma execução que teve um mandante poderoso, um que organizou e talvez um terceiro que contratou quem matou. Não há dúvida sobre isso. A gente sabe que uma execução feita em movimento de uma moto, é coisa de militar, policial, gente treinada. Valério foi executado por um profissional de alta periculosidade, um cara que sabe tudo sobre isso, um pistoleiro escolhido a dedo.
Cezar Santos — Há evidências de que o assassinato foi, além de retaliação, um aviso?
Sim. Por que o matador foi exatamente às 2 horas da tarde, após o programa, quando toda a equipe da Rádio Jornal estava saindo? Eles poderiam ter feito no estacionamento do Serra Dourada, no escuro, ou na porta da casa dele, ele morava numa rua estreita e escura no Jardim América. Mas fizeram questão de matar na porta da rádio, isso foi um aviso: nós estamos preparados, Valério é o primeiro. Mas por exemplo, o Manoel de Oliveira, se falar alguma coisa, também vai. Vocês jornalistas, tomem cuidado. O recado foi bem claro.
Euler de França Belém — Um pistoleiro normal dá dois ou três tiros e foge logo. No caso do Valério, foram seis tiros...
Sim, no primeiro tiro, Valério arrancou, mas, atirado, bateu o carro. Mais um tiro em movimento e quatro com o carro já parado. Foram três tiros a curta distância em cima do coração. Um dos tiros acertou na mão, foi um gesto de defesa do Valério, arrancando os dedos. Tiros no coração, trata-se de um pistoleiro altamente preparado.
Euler de França Belém — Consta que o assassino fugiu com toda tranquilidade e que não havia policiamento militar na região. Isso não é muito estranho?
Estranhei muito isso. Quinze minutos depois do assassinato, eu estava numa sala da Rádio Jornal, apareceu um comandante da PM, cujo nome não quero citar, e eu, desesperado, não o reconheci, pedi a ele pelo amor de Deus, não deixe esse assassino fugir (Manoel se emociona, chora). Ele não falou nenhuma palavra, apenas pôs a mão no meu joelho e disse vamos tomar providências. E continuou no meio do povo, durante não sei quanto tempo, ouvindo o que as pessoas falavam. Foi o único policial que apareceu naquele momento. Depois chegaram o secretário de Segurança Pública [João Furtado], o coronel Edson Costa [comandante-geral da PM], a delegada Adriana Accorsi e outros. Mas isso uma hora e meia depois.

No sepultamento do Valério, o mesmo oficial apareceu, me deu os pêsames, eu o cumprimentei. ele me falou que o governador tinha lhe dito que eu não me preocupasse, porque custasse o que custasse, o mandante seria preso. Ele falou “descobrir o crime é uma ordem do governador, nos vamos descobrir, não importa quem é, isso é questão de honra para mim, para o governador, para a corporação”. Aí eu já sabia quem era ele. Não falei nada, só disse muito obrigado. Me controlei, minha família me falou pra eu me acalmar. Quinze minutos depois, o governador Marconi chegou com a primeira-dama, eu até estranhei, achei que o govenador não iria, tinha mandado o recado. O governador me falou “Mané, fique tranquilo, no que depender de mim, do Estado, você sabe que historicamente nos meus governos os crimes são elucidados, nesse não será diferente.” Ele me perguntou se eu tinha suspeitos. Eu respondi que aconteceram alguns fatos, que o Valério tinha criticado pesadamente a diretoria do Atlético. Ele perguntou quais diretores, e eu respondi fulano, beltrano... Mas falei ao governador que não estava dizendo que seriam eles, que eu não sabia.
Cezar Santos — Esse oficial é suspeito de envolvimento?
É, como todos são. Mas ele é culpado? Não posso falar nada, nem vou citar nomes porque não tenho provas. Eu tenho suspeitos, os mesmos que todo o Estado de Goiás tem.
Frederico Vitor — Esse oficial teria lhe falado que o suspeito do crime era de outro Estado? Ou que seria um menor?
Não, pra mim não falou isso em hora nenhuma, nem após o crime nem depois, no velório.
Euler de França Belém — No decorrer da investigação, realmente foi falado que teria sido um menor...
O que não cola. O assassino é um especialista.
Euler de França Belém — Saiu na imprensa que uma testemunha viu o criminoso, que estava de capacete. Ela pôde perceber que se tratava de um homem de 30 a 40 anos de idade.
Essa descrição bate com um suspeito de ser o pistoleiro, realmente.
Cezar Santos — Há um retrato falado?
Sim, mas impreciso, o cara estava de capacete. É o problema dessas execuções feitas hoje por motoqueiros, o capacete esconde.
Euler de França Belém — Ex­traoficialmente foi dito que o pistoleiro fez campana no local nos dias anteriores. E que esperou por Valério durante 40 minutos. Que informação a polícia lhe passou?
Eles não têm essa informação, mas não poderia se diferente. Da forma profissional como foi executado o crime, pelos suspeitos que há, isso não foi planejado 40 minutos antes. Foi com uma semana, 15 dias, sei lá. Tudo foi planejado.
Euler de França Belém — Ninguém viu nada no dia do crime?
Algumas pessoas viram, inclusive uma moça. Mas ela não teve coragem de prestar depoimento. Sem testemunhar, ela teria dito que o criminoso a encarou. Ela tem medo, não tem dúvida. Falam até que um dos suspeitos teria matado uma criança antes de matar o Valério. Policiais que conhecem esse suspeito, dizem que se for preciso ele mata o próprio filho. São três suspeitos, e dizem que qualquer um deles mata o próprio filho, segundo a polícia.
Cezar Santos — O assassino é ex-policial ou é da ativa?
Dizem que é da ativa.
Euler de França Belém — Há um suspeito de Rio Verde?
A conversa é que são três suspeitos, dois de Goiânia e um de Rio Verde. Parece que há uma pessoa ligada ao mandante que tem ligações com Rio Verde, mas não tem nada concreto. Não se pode dizer que o executor é de Rio Verde. Se eu tivesse prova, poderiam me matar amanhã, mas eu chegaria e diria está aqui, quem matou foi fulano e quem mandou foi sicrano. Já vivi 73 anos, pra mim tanto faz.
Euler de França Belém —Que arma foi usada? A polícia sabe mais sobre a moto do pistoleiro?
Parece que um revólver 38. Sobre a moto, só se sabe que é vermelha.
Euler de França Belém — A investigação parece ser lenta. O sr. considera que a polícia está fazendo um trabalho bem feito, considerando que o caso é complicado?
Alguns fatos atrapalharam as investigações. Dois dias depois, greve da polícia. Os delegados se empenharam muito, o caso começa a caminhar e a polícia entra de greve de novo. De repente, troca-se o secretário de Segurança. Aí ficamos na expectativa, as Adri­anas [Accorsi, delegada-geral, e Ribeiro, titular da Investigação de Ho­micídios] vão continuar onde estão ou vão sair dos cargos? Não que se pare de investigar, mas dá uma diminuída para a poeira assentar e ver o que acontece. Tu­do isso influenciou as investigações. Pelo que se sabe, houve dificuldade com empresas telefônicas, para rastreamento de ligações. Só se conseguiram imagens da câmara da casa de um juiz que mora perto da rádio. Imagens sem nitidez, de má qualidade.

E todos sabemos que não adianta prender se não tiver provas consistentes. Mesmo prendendo o executor, é difícil mantê-lo na cadeia se não tiver prova consistente. Não tem essa prova. A delegada Adriana disse que já se sabe 70% do crime, os suspeitos são os mesmos, mas os 30% que faltam são justamente o importante numa investigação, as provas consistentes que eles ainda não têm em mãos.
Cezar Santos — O sr. acha que a polícia completa esses 30%?
Acho que sim, eles estão trabalhando para isso. Quando tiverem em mãos o rastreamento de todos os telefones da área pode ser que aconteça. Mas o segredo que a polícia mantém é normal, eu respeito. Se a polícia me disser que achou, que é fulano, até pela emoção — pela cobrança da minha família, da sociedade, da imprensa, todo mundo cobra de mim, eu me cobro —, eu posso dizer para minha família, para os amigos e botar a perder um trabalho que está sendo feito há tanto tempo. Tenho que entender isso.
Marcos Nunes Carreiro — O sr. esteve outras vezes com o governador?
Sim, duas vezes depois do velório. Com a equipe da Segurança, Marconi me disse que era questão de honra para ele o esclarecimento de todos os crimes, principalmente desse. Com a equipe ele cobrou todos os esforços possíveis nesse sentido. Ele disse, como governador e pessoalmente, não posso deixar que um crime desse fique impune, não aceito isso.  O governador me falou Manoel, estão dizendo que são poderosos, mas no meu governo não tem poderosos, se depender de mim, eles serão responsabilizados. Se conseguirmos provar, vão ser presos mesmo, porque prender nós vamos prender, e eu confio no Judiciário. Foi o que o governador me falou na última vez que estive com ele.
Cezar Santos — Como lhe foi dada a notícia do crime?
Eram 2 horas da tarde. O João, coordenador da minha equipe na TV, trabalhava com o Valério na Rádio Jornal, ligou para o Ma­nezinho, outro filho meu, e disse avisa ao seu pai que o Valério levou um tiro aqui na porta da rádio. Eu liguei de volta e perguntei o que tinha acontecido. Valério levou um tiro. Perguntei você já chamou a ambulância, já tomou providências? Estou indo aí. Quando cheguei à porta da radio, uma multidão, perguntei ao João se o Valério já tinha sido encaminhado ao hospital. João me disse “seu Manoel, o Valério foi a óbito”. Aí olhei e vi as pernas do meu filho fora do carro. Me bateu o desespero (Manoel chora ao lembrar a cena). Me perdi totalmente e gritei eu sei quem mandou matar meu filho. O pessoal me abafou, me falou para que eu me calasse. Deus me deu força para que eu me calasse, mas a vontade era dizer quem foi. Olha, seria pra mim a maior surpresa do mun­do se não for as pessoas que a gente suspeita.   
Marcos Nunes Carreiro — O que os policiais disseram quando o sr. chegou ao local?
Eles me pareceram tão estarrecidos quanto eu e todos. Nem eles pareciam acreditar que um crime dessa natureza pudesse acontecer. Foi um crime de comoção mundial. Hoje existem as redes sociais, recebi e-mail do mundo inteiro. Elas não param, continuam criando fatos. Fiquei sabendo que vão fazer uma enquete nas redes sociais com a pergunta “quem mandou matar Valério?”
Cezar Santos — Essa é a questão, muito mais importante sobre quem foi que atirou.
O cara que matou é profissional, mata por dinheiro. Valério não foi primeiro dele. Mas um cidadão mandar matar um jornalista esportivo? Se fosse da área policial, ou mesmo da política, até se entenderia, há grandes interesses, mas na história mundial nunca um jornalista esportivo foi executado. Valério foi o primeiro. E por mais acintosa que tenha sido a crítica, a pessoa tem tempo de pensar, raciocinar sobre o que vai fazer. Nos meus 45 anos de profissão, fui agredido fisicamente nove vezes, mas sempre pela frente, ninguém me deu mur­ro por trás. Nenhuma das pessoas que me agrediram é meu inimigo, algumas até já morreram, mas não ficaram inimigas. Futebol é como briga de irmão, briga de manhã, de tarde está de bem, acabou. Não pode ser diferente.

Os policiais, toda a cúpula da polícia ficou estarrecida, o secretário, o comandante da PM, a Adriana Accorsi, a Adriana Ribeiro. Naquele momento eu disse a eles que não tinha condições de falar sobre o Valério, que me procurassem depois...       
Frederico Vitor — A Copa do Mundo de 2014 será realizada no Brasil. O crime arranha a imagem do País?
Infelizmente, é como no futebol. Se fosse um jornalista do eixo Rio-São Paulo, a história seria outra, já teria interferência do governo federal, etc. A repercussão do crime foi muito mais pelas redes sociais que pela imprensa nacional. A imprensa local foi fantástica, até hoje ninguém parou. O Jornal Opção é um exemplo, é um veículo que tem uma força enorme, super-respeitado, e tem dado informações continuamente. O Oloares Ferreira (programa Ba­lanço Geral, TV Record), o Joel Da­tena (TV Bandeirantes), a Or­ganização Jayme Câmara, todos me ligam, falam do assunto. A mídia nacional não é assim.
Euler de França Belém — Um jornalista da ESPN está levantando o tema, já conversou com diretores do Atlético, se não saiu vai sair logo...
A ESPN já soltou uma matéria. Houve uma cobrança da Con­federação Sul-Americana de Im­prensa, algo assim...
Cezar Santos — Valério chegou a comentar com o sr. sobre ameaças que ele estaria sofrendo?
Cerca de um mês antes, no estacionamento do Serra Dou­rada, ele veio conversar comigo sobre uns problemas meus, ele me tranquilizou, disse a gente resolve isso, pai. Aí eu falei e você, Valério, fiquei sabendo que você está arrumando briga de novo, confusão de novo com fulano? Ele me disse, pai, acho que dessa vez eu peguei pesado, estou um pouco preocupado. Mas ficou só nisso. Entramos no estádio e fomos trabalhar. A Lorena, mu­lher dele, também tinha falado, uma semana antes, que o Valério estava superpreocupado, não estava dormindo. Aconteceram esses fatos antes de ele ser executado. É triste demais...
Euler de França Belém — O sr. acredita na Justiça de Goiás?
Em toda a minha vida, sempre ouvi dizer que em toda corporação tem 10% de podre — no jornalismo tem os picaretas, malandros, entre os médicos, entre os advogados nem se fala. Mas esses 10% são poderosos, trabalham com gente de poder. Tenho amigos na PM que galgaram postos com uma luta enorme. Outros não fizeram nada para isso acontecer, por pertencerem à banda podre. No Judiciário tem até um órgão de investigação [Conselho Nacional de Justiça], porque tem problemas. Mas 90% são bons. Os piores bandidos são os da polícia e do Judiciário, porque eles são pagos para defender a sociedade. O bandido do Judiciário, além de não prender, deixa os bandidos nas ruas. A polícia faz o papel dela, prende, muitas vezes prende bandido com 30 passagens, mas a lei solta. Depois da lei, o problema é a corrupção.

No meu caso, sei o quanto é difícil solucionar esse crime. Vou repetir, o bandido, o mau caráter, o demônio, o sem escrúpulo, o psicopata é o mandante. Quem organizou fez para agradar, ou para levar dinheiro; o que executou definitivamente fez para ganhar dinheiro. E não deve ter sido pouco, porque quem manda, sabendo a repercussão que teria, deve ter pagado caro. Mas o mandante sabe que vai estar eternamente amarrado a quem não presta, vai ficar refém dessas pessoas. E isso já passa a ser um castigo.
Euler de França Belém — O sr. tem esperança de que esse crime será esclarecido?
Tenho esperança, porque confio muito no governador. Um mês depois do crime, os deputados (estadual) Mauro Rubem e (federal) Marina Sant’Anna quiseram me levar ao ministro da Justiça. Eu agradeci, disse que precisava dar um voto de confiança à polícia e à Justiça de Goiás. Se eu fosse atrás da Polícia Federal, poderia até trazer um problema, porque a polícia estava em greve e poderia se sentir ofendida. Eu não quero criar um clima ruim. Se partir das autoridades locais o pedido de intervenção, eu concordaria. Mas o governador me falou, se for necessário, poderia pedir, mas me pediu vamos tentar de todas as maneiras resolver aqui. Ele disse ter quase certeza de que o tempo que a Polícia Federal precisaria é o tempo que a polícia daqui precisa. Ele me pediu, vamos valorizar a nossa polícia, dar moral a ela e acreditar que ela pode resolver. Eu falei tudo bem, governador.

Euler de França Belém — E agora tem um delegado da Polícia Federal na Secretaria de Segurança Pública de Goiás...
Exatamente. A PF tem tradição de enfrentar os poderosos. E o delegado Joaquim Mesquita nem corporativista é, porque ele prendeu 25 policiais federais no Mato Grosso. Estive com ele e me causou muito boa impressão. É um profissional vaidoso de sua competência, isso é bom, quem faz bem seu trabalho tem de ter orgulho mesmo. E ele me disse que nada é impossível e que tudo o que for preciso fazer para resolver o problema ele vai fazer. Mesmo porque foi um dos pedidos do governador a ele, não só o caso do Valério, inclusive do advogado Davi Sebba e outros que estão sem resolver. Ele me franqueou todas as informações, em qualquer momento. Disse que precisa da colaboração minha e da Lorena, falou que tem muita coisa que já é sabida, mas que não pode abrir ainda. A conversa com ele foi muito boa. É um crime que só se resolverá na inteligência, não adianta força. Tem de ser levada (a investigação) com muita habilidade. Se botar na cadeia sem prova não adianta. Esse pessoal é bem orientado, sabe o que pode acontecer, sabe como se defender.
Euler de França Belém — O sr. sabe se foi pedida uma busca e apreensão?
Não sei. Até agora ninguém foi ouvido como suspeito, todos foram ouvidos como testemunhas.
Euler de França Belém — O sr. sabe do fato de que um militar passou mal quando foi ouvido?
Ouvi algo sobre isso, mas não sei quem foi. Não fico em cima para saber informações, porque a resposta é sempre a mesma. As autoridades, a polícia, dizem a mesma coisa, que fal­tam provas concretas.
Euler de França Belém — O sr. foi vítima de assalto há poucos dias. Teve a ver com o assassinato do Valério?
Não, foi um assalto no meu clube mesmo, levaram dinheiro, carros, deixaram a mim, a minha mulher e funcionários sob terror psicológico durante uma hora, com pistola apontada para nossa cabeça. Mas foi um assalto mesmo. Depois de todo o terrorismo, mais calmos, eles até manifestaram solidariedade a mim pela morte do Valério Luiz. Um disse que mataria o assassino do Valério se soubesse quem é. Uma loucura. E é gente daqui mesmo.

“Crise do Atlético é culpa do Valdivino Oliveira”



Euler de França Belém — Falando de futebol, Valdivino de Oliveira disse que não há motivos para a decadência do Atlético, que os salários e os bichos estão em dia. Ele atribuiu à troca de técnicos. É isso mesmo?

A culpa é dele, Valdivino. O time subiu e foi ele o responsável, estava lá cuidando, corria atrás de patrocínios. Mas o clube perdeu dois patrocinadores fortíssimos, a Delta (tida como braço empresarial do bicheiro Carlos Cachoeira) e a Linknet. E o Valério chegou a comentar que a situação do A­tlético na série B será muito difícil porque não terá mais as duas “lavanderias”, a Delta e a Linknet. Aí o Valdivino deixou o clube nas mãos do Adson Batista. Há quatro meses o Valério falou que o Valdivino [suplente de deputado federal, assumiu a cadeira em algumas oportunidades] estava envolvido com Brasília, deixando o Atlético, e que era ele a única pessoa do clube não descartável, os outros são. E Valério explicou os problemas de cada um dos diretores, envolvimentos com empresários de futebol prejudiciais ao clube, etc. O Atlético cometeu um grande erro no começo do campeonato. Hélio dos Anjos saiu porque estava perdendo. Por onde passou, Hélio deixou rescisão de contrato por receber. Depois o Atlético trouxe o Hélio de novo, não sei se para resolver o problema da rescisão. Aí perdeu seis partidas seguidas. Veja que aí são 18 pontos. Se o time ganhasse três e empatasse uma, seriam dez pontos a mais. Com 27 estaria com 37 pontos depois do jogo com o Santos (vitória por 2 a 1). Com a vitória em cima do Santos, o time estaria com muito mais motivação. Poderia até ser rebaixado, mas não vexatoriamente. O Atlético começou o campeonato na lanterna e chega ao final na lanterna. Foi terrível perder 18 pontos no início. Com 6 ou 7 desses 18 pontos ele não estaria na lanterna. Estaria mais motivado, psicologicamente normal. Outra coisa que o Valério disse e é verdade, o Atlético se misturou muito com empresários de futebol, que não querem saber se o jogador vai jogar, eles enfiam o jogador. Aí a pergunta, não houve dinheiro por fora nesses jogadores que vieram? Não tem provas, mas pode ter acontecido. Ocorreu algo incrível no Atlético: encostar três ou quatro jogadores titulares e colocar outros que nunca conseguiram ser titulares. Mas quem é o responsável por coisas assim acontecerem? Na minha equipe, eu sou o responsável pelo que acontece. Valdivino foi o responsável pela subida do Atlético, é o responsável também pela queda.
Cezar Santos — A Atlético não subiu de forma muito rápida?
Foi como construir um prédio pela cobertura sem se preocupar com a fundação. O Atlético não tinha receita para estar na série A. O Goiás tinha R$ 30 milhões, o Atlético tinha R$ 7 milhões, R$ 8 milhões.  Isso tudo influencia. Teve de contratar jogador a R$ 20 mil, R$ 30 mil porque não tinha receita.

Frederico Vitor — Qual a perspectiva do time na série B?
Vai ter muita dificuldade no ano que vem. Pra começar, só tem três vagas (para ascensão), porque uma é do Palmeiras, que vai ser rebaixado agora. O Atlético terá receita de no máximo R$ 3 milhões, isso é menos de R$ 300 mil por mês, porque não tem renda. Se na A só leva 8 mil pessoas, vai levar quantas na B?  Nada. A estrutura do time hoje é de no mínimo R$ 200 mil mensais, só a estrutura. Cadê o dinheiro, cadê os patrocinadores? O Goiás, na série B, teve de arrumar um hospital para patrociná-lo, o Anis Rassi, porque o cara é vice-presidente do time e investiu. Não tem investidor na B, que não tem público. Ninguém quer anunciar na série B.
Cezar Santos — É mais do que coincidência o Atlético começar a decair quando Carlos Ca­choeira é preso?
As duas lavanderias, Delta e Linknet. A Linknet manteve o Atlético até descobrirem os rolos em Brasília [envolvimento em escândalos no governo do Distrito Federal que derrubaram o ex-governador José Roberto Arruda, em 2010]. O cara lá dava cano em boteco e de repente ficou rico, milionário, de andar de avião, ter jatinho, carro importado blindado, sócio de usina com Edminho Pinheiro e José João Stival. 
Euler de França Belém — E o Go­iás, que estava numa crise de R$ 70 milhões e conseguiu melhorar?
É o que eu falo, comando. O Goiás tem dono. O Vila Nova, quando tinha João Carneiro, tinha problema, mas decidia título, ganhava título. O Atlético, com Antônio Accioly, disputava o clássico do futebol goiano com o Vila [Clássico dos Milhões]. Morreu o Accioly o Atlético foi junto. Go­iânia com Joaquim da Veiga Jardim era o time de Goiás, era o Chapa Branca. Aí venderam uma área aqui, que segurava o Goiânia, comprou uma chácara na Vila O­límpica, onde só tinha mato, acabou o Goiânia. O Vila não sumiu graças ao Marconi, que deu aquela área [no Setor Santa Genoveva] onde foi feito o centro de treinamento, porque aquilo não acaba.
Euler de França Belém — O Goiás terá de melhorar muito para a série A?
Precisa manter o elenco e contratar mais oito jogadores melhores do que os que estão lá. Oito e a média de salário não é menos de R$ 150 mil.
Euler de França Belém — O Goiás tem condições de pagar isso?
Ele tem bala na agulha para isso, fatura R$ 30 milhões só da Globo na série B. Na A, mesmo que fique com os R$ 30 mi­lhões, consegue mais R$ 1 mi­lhão de patrocínio. E tem mais as rendas. No Serra Dou­rada com o Flamengo, o Goiás bota R$ 1 milhão no bolso. O Atlé­tico botou...
Euler de França Belém — O segredo do Goiás é o Hailé Pinheiro?
É. Um exemplo. O Goiás estava mal, o doutor Syd [de Oliveira Reis, presidente de 2008 a 2010] é bom demais, correto, fino, mas se envolveu muito, achou que era o cara, que dava conta, e começou a fazer bobagens. Enfiou dinheiro no [técnico] Leão, trouxe jogador com contrato de cinco anos sem necessidade. Hailé viu aquilo e disse não — e olha que Syd é médico do Hailé —, tentou tirá-lo numa boa e o doutor Syd não quis. Aí Hailé armou um esquema e o tirou. A diretoria disse que aceitava tirar o Syd, se ele Hailé assumisse. Hailé assumiu com o time rebaixado, organizou, pagou contas, pôs salários em dia. Foi no banco, pegou dinheiro — Hailé não põe um tostão no Goiás, apenas avaliza. Até que resolveu sair, mas impôs João Bosco Luz quando muita gente queria outro. Hailé comandou, não desperdiçou dinheiro, teve aproveitamento de 70% das contratações, um baita negócio. Hailé é o cara.
Euler de França Belém — Qual o grande jogador do Goiás hoje?
Não um só. Tem o Harlei, o Ricardo Goulart é muito bom. O Walter é a maior surpresa. O Goiás vai ser campeão da B graças ao Walter, bundudo, gordo, chamado de Tufão, mas ele é o cara, faz gol mesmo. Imagine se emagrecer e acabar a bunda?
Cezar Santos — É perigoso o futebol minguar...
Pode ser (risos), mas faz gol, o cara é danado, habilidoso, faz gol bonito, passa bem a bola. A primeira vez que ele entrou, no meio do jogo, eu disse está meio cedo, mas esse gordinho aí não é bobo. No outro jogo também foi bem, de­pois fez três gols num jogo. Veio do Cruzeiro, depois de estourar no Cruzeiro tinha ido para Portugal.
Frederico Vitor — Harlei tem condições de jogar?
Renova por dois anos, um ano ele tem condições de jogar, depois eu não sei. 
Euler de França Belém — O Vila vai acabar ou vai ressurgir?
O Vila tem de usar tudo o que ele já tem, para não gastar. Diretor de futebol o Vila não dá conta de pagar um melhor que o Tim [Car­los Eduardo Pereira, ex-ídolo do clube, assumiu na semana passada]. Para contratar um igual ao Tim, terá de pagar dois salários, então paga o Tim que já é funcionário do Vila. Não dá conta de contratar um treinador melhor que o Roberto Oliveira, então fica com ele mes­mo. A primeira fase do Cam­pe­onato Goiano é tranquila. De­pois vai arrumando, economiza durante cinco meses, pega esse dinheiro e contrata cinco jogadores. Chega entre os quatro primeiros e daí para frente é lucro.
Euler de França Belém — Valério torcia por qual time?
Atlético, ele jogou lá, foi zagueiro júnior mais de ano. Parou de jogar para trabalhar.
Cezar Santos — O sr. também é atleticano?
Sim, desde 1957, quando ele foi campeão goiano.
Euler de França Belém — Quando foi deputado, o sr. quase transformou o Atlético em time do interior, pois quis emancipar Campinas...
(rindo) Foi mesmo, eu propus isso. O Batista Custódio, do “Diário da Manhã”, mandou fazer uma pesquisa e o povo de Campinas rejeitou, não quis ser cidade.
Cezar Santos — O st. tem quanto tempo de jornalismo?
Comecei em 1967, em A­nápolis, são 45 anos de jornalismo.
Euler de França Belém — Quais os melhores comentarista e narrador esportivos de Goiás?
Narrador, o Edson Rodrigues, que eu trouxe para Goiás em 1972, continua sendo o cara, o dono da audiência, está na 730 hoje. Co­mentarista já não os temos como antigamente, um Draulas Vaz, Amir Sabbag. Temos hoje o Mané, Evandro [Gomes]. Na 730, o Marcelo, ex-jogador de futebol. O Ledes, que é mais narrador que comentarista, tem um defeito, pois não critica sem elogiar, é muito prolixo. Tem o Charles.
Cezar Santos — O Nivaldo Carvalho?
É mais polêmico, não entende muito de futebol, é meio porra-louca, e é radical, comentarista não pode ser radical. Se ele meter o pau no jogador, e o jogador fizer uma crítica, ele encerra a carreira do jogador. Mas o Nivaldo é bom, tem audiência.
Euler de França Belém — E as mulheres, a Monara Marques é boa?
É uma comentarista padrão Esporte TV, padrão Globo. A Globo exige do comentarista que seja super bem-informado, sem ser polêmico. O estilo dela é o padrão desses canais fechados. Na rua as pessoas nem xingam nem falam dela.
Cezar Santos — Na verdade, é um estilo anódino, e as pessoas nem lembram o que ela falou.
É isso. É filha do Evandro Gomes, começou comigo. Ela vai brilhar fora de Goiás. Ela é meio atrevida, tive problemas com ela no início, pelo estilo padronizado, diferente do estilo da minha equipe, mais no improviso. Chamei ela e o Evandro, expliquei isso. De­pois ela teve convite da PUC-TV, foi e o Evandro saiu também, achou ruim que eu tivesse falado. Depois o Evandro se arrependeu violentamente, quis voltar, mas eu já tinha contratado outro, não dava. Foi uma burrice enorme do Evandro, porque além de sair de um programa que tem audiência e que pega no Estado inteiro, ele foi para um programa que não tem audiência. E, pior, saiu também da 730, que tem 80% de audiência e foi para a Rádio Jornal, aí ele sumiu. As pessoas me perguntavam se o Evandro tinha parado, estava sumido.
Frederico Vitor — Valério era querido por todas as torcidas, mesmo sendo atleticano. A morte dele pode fazer o time perder torcedores e patrocinadores?
As pessoas me abraçam, co­mentam sobre o assassinato do Valério. Muitas, que têm a opinião de que os suspeitos são do Atlético, por tudo que foi divulgado, me dizem sou atleticano, mas estou com ódio do Atlético. Quem não é atleticano, então, passou a odiar mais ainda. Ouvi isso reiteradas vezes. Existe isso, a pessoa torce pelo time, mas tem sentimento. Coincidência ou não, o público do Atlético nos estádios caiu demais. Antes, mesmo disputando mal, levava mil, 2 mil, 3 mil pessoas no estádio.  Passou a levar 800 pessoas, teve jogo com 200 pessoas. Coincidência? Pode ser, mas é isso aí. E o Atlético, depois que saiu das cinzas, era um time simpático, não tinha briga com torcida do time. As outras torcidas torciam pelo A­tlético quando o jogo não era com o time delas. Até subir para a A, para a im­prensa era bom cobrir o time.  Na A tornou-se o time mais difícil para a imprensa, primeiro que é em Campinas, longe, e ultimamente, para atrapalhar o serviço da imprensa, eles começavam a dar entrevista às 7 horas da noite. Os outros times põem dois para dar entrevista, no Atlético é um só, por birra. Quantas vezes tive de repetir matéria porque não dava tempo para editar o material do Atlético no programa das 19 horas. O Atlético mandou ofício para duas emissoras pedindo a cabeça de cronista esportivo, proibiu entrada de jornalistas, coisa que nunca tinha acontecido na história do time.
Euler de França Belém — Sobre a Copa 2014, jornalista de fora disse que se fosse Marconi o governador, Goiânia sediaria jogos, porque o outro governador não quis se empenhar. Concorda?
Sim. Alcides [Rodrigues] não tinha dinamismo para isso, a assessoria dele muito menos, não tinha ligação com futebol. Muito devagar. Marconi é diferente, tem a dosagem de vaidade política, que o político tem de ter. Marconi sabe da importância de trazer a Copa para Goiânia. Ele tem consciência de que tem de arrumar o aeroporto nestes dois anos, que tem de arrumar o Estádio Olímpico. Tem consciência de que tem de arrumar as estradas, tanto que está fazendo um asfalto de primeiro mundo e que tem de asfaltar também as cidades, porque o povo do interior também gosta de asfalto. Se ele fosse o governador a Copa estaria aqui. E ele ainda está conseguindo muito, trouxe a Argentina para jogar aqui. Tinha grande amizade com o Ricardo Teixeira [ex-presidente da CBF]. Marconi não quer saber, se é mídia, se é marketing, se é bom para Goiás, então ele batalha por isso. É um homem de visão política.
Euler de França Belém — O sr. se candidata a deputado estadual de novo?
Não tenho essa pretensão.
FONTE: JORNAL OPÇÃO 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Veja uma das fábricas de dinheiro do governo.


Veja uma das fábricas de dinheiro do governo.
IBPT - INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Percentual de Tributos sobre o Preço Final:
PRODUTO                                                                  % Tributos/preço final
Mesa de Madeira30,57%
Cadeira de Madeira30,57%
Sofá de Madeira/plástico34,50%
Armário de Madeira30,57%
Cama de Madeira30,57%
Motocicleta de até 125 cc44,40%
Motocicleta acima de 125 cc49,78%
Bicicleta34,50%
Vassoura26,25%
Tapete34,50%
Passagens aéreas8,65%
Transporte Rod. Interestadual Passageiros16,65%
Transporte Rod. Interestadual Cargas21,65%
Transporte Aéreo de Cargas8,65%
Transp. Urbano Passag. - Metropolitano22,98%
MEDICAMENTOS36%
CONTA DE ÁGUA29,83%
CONTA DE LUZ45,81%
CONTA DE TELEFONE47,87%
Cigarro81,68%
Gasolina57,03%

PRODUTOS ALIMENTÍCIOS BÁSICOS
Carne bovina18,63%
Frango17,91%
Peixe18,02%
Sal29,48%
Trigo34,47%
Arroz18%
Óleo de soja37,18%
Farinha34,47%
Feijão18%
Açúcar40,4%
Leite33,63%
Café36,52%
Macarrão35,20%
Margarina37,18%
Margarina37,18%
Molho de tomate36,66%
Ervilha35,86%
Milho Verde37,37%
Biscoito38,5%
Chocolate32%
Achocolatado37,84%
Ovos21,79%
Frutas22,98%
Álcool43,28%
Detergente40,50%
Saponáceo40,50%
Sabão em barra40,50%
Sabão em pó42,27%
Desinfetante37,84%
Água sanitária37,84%
Esponja de aço44,35%

PRODUTOS BÁSICOS DE HIGIENE
Sabonete42%
Xampu52,35%
Condicionador47,01%
Desodorante47,25%
Aparelho de barbear41,98%
Papel Higiênico40,50%
Pasta de Dente42,00%

MATERIAL ESCOLAR
Caneta48,69%
Lápis36,19%
Borracha44,39%
Estojo41,53%
Pastas plásticas41,17%
Agenda44,39%
Papel sulfite38,97%
Livros13,18%
Papel38,97%
Agenda44,39%
Mochilas40,82%
Régua45,85%
Pincel36,90%
Tinta plástica37,42%

BEBIDAS
Refresco em pó38,32%
Suco37,84%
Água45,11%
Cerveja56%
Cachaça83,07%
Refrigerante47%
CD47,25%
DVD51,59%
Brinquedos41,98%

LOUÇAS
Pratos44,76%
Copos45,60%
Garrafa térmica43,16%
Talheres42,70%
Panelas44,47%

PRODUTOS DE CAMA, MESA E BANHO
Toalhas - (mesa e banho)36,33%
Lençol37,51%
Travesseiro36%
Cobertor37,42%
Automóvel43,63%

ELETRODOMÉSTICOS
Fogão39,50%
Microondas56,99%
Ferro de Passar44,35%
Telefone Celular41,00%
Liquidificador43,64%
Ventilador43,16%
Refrigerador47,06%
Vídeo-cassete52,06%
Aparelho de som38,00%
Computador38,00%
Batedeira43,64%
Roupas37,84%
Sapatos37,37%

MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Casa popular49,02%
Telha34,47%
Tijolo34,23%
Vaso sanitário44,11%
Tinta45,77%
Fertilizantes27,07%
Móveis (estantes, cama, armários)37,56%
Mensalidade Escolar37,68% (ISS DE 5%)
ALÉM DESTAS COISAS, VC AINDA PAGA DE  15% A 27,5% DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE SEU SALÁRIO!
E, COMO O GOVERNO NÃO PRESTA OS SERVIÇOS, VOCÊ PAGA O SEU PLANO DE SAÚDE, O COLÉGIO DOS SEUS FILHOS, A SEGURANÇA DA RUA, IPVA, IPTU, INSS, FGTS, ETC., ETC., E JÁ TEM DEPUTADO FALANDO EM CPMF OUTRA VEZ!
Isso está aí há muitos anos, e ninguém faz nada para mudar!!!
O Congresso zomba de nós todos os dias!
Até quando vamos aceitar essa roubalheira, até quando vamos trabalhar para sustentar essa corja de corruptos?
Enquanto o povo não se mobilizar para uma revolução interna, ELES continuarão nos fazendo de escravos.
Pois para ELES, é isso que somos.
DIVULGUEM!!!!!!
A mudança do Brasil só depende de nós!!